Lídia Tchárskaia
O nome de Lídia Tchárskaia (pseudônimo de Lídia Tchirilova,1875–1937), nascida em Tsárskoie Seló (São Petersburgo), hoje nem na Rússia é amplamente conhecido, mas ela foi a autora infantojuvenil mais lida no início do século XX.
A mãe de Lídia morreu no parto e seu pai era militar. Quando completou 10 anos de idade, por conflitos com a nova família do pai, foi mandada para o Instituto Pávlovski, um internato para moças, onde ficou até os 17 anos. Ao sair, ingressou na Escola de Teatro Imperial de São Petersburgo e, em 1898, tonou-se parte do corpo de atores do Teatro Aleksandrínski, fazendo pequenos papéis. Depois de separar-se do marido, Lídia começou a escrever para ajudar no sustento do filho e adotou o pseudônimo Tchárskaia (de tcháry, “feitiço”, “encanto”).
Com mais de 80 obras publicadas (em geral infantojuvenis), a autora enveredou por vários gêneros literários: escreveu poemas, contos, contos maravilhosos, novelas, romances autobiográficos e históricos. Suas protagonistas femininas — românticas, sentimentais, positivas e não raro órfãs (como a própria autora) — causavam sensação entre russinhas adolescentes.
Memórias de uma moça no internato (1901–1902), sua primeira novela, foi publicada na revista Palavra sincera e fez sucesso espantoso. Baseada nas lembranças do Instituto Pávlovski, a autora retrata os conflitos e as expectativas de moças cheias de paixão. As protagonistas, a pobre ucraniana Liuda Vlássovskaia e a princesa georgiana Nina Djavakha, deram origem a uma série de livros, que inclui A princesa Djavakha (1903), Liuda Vlássovskaia (1904), A segunda Nina (1907), entre outros. A livre e exótica Djavakha, a quem MarinaTsvetáieva chegou a dedicar um poema na coletânea Álbum da tarde (1910), foi a heroína mais adorada entre as criações de Tchárskaia.
Com a Revolução de 1917 e a instauração de um novo regime, os livros de Lídia Tchárskaia, assim como os de outros autores, foram retirados das bibliotecas e deixaram de ser editados: “elеs eram estranhos à classe proletária e não correspondiam à nova ideologia”, sendo considerados por demais sentimentais e “burgueses”. Ela conseguiu driblar a censura por um tempo, usando um pseudônimo, mas, após ser descoberta, não teve como continuar escrevendo. Foi despedida do teatro em 1924. Kornei Tchukóvski, Samuel Marchak e Víktor Chklóvski, representantes de uma nova proposta estética, criticaram-na publicamente — o único que saiu em sua defesa foi Fiódor Sologub, elogiando a escrita e a popularidade da autora, que acabou morrendo no ostracismo e na pobreza.
Com o fim da União Soviética, as obras de Tchárskaia voltaram a ser publicadas, embora sem o mesmo frenesi.
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