Categoria: Autores
Aleksei Tolstói
Aleksei Tolstói (1883–1945), da família do conde Nikolai Tolstói, nasceu em uma cidadezinha na província de Samara e virou um conhecido e influente escritor na União Soviética, principalmente a partir da década de 1930. Aventurou-se por vários gêneros: foi autor de obras realistas e históricas, como a trilogia O caminho dos tormentos (1921–1940) e o romance histórico inacabado Pedro I (1930–1934), e de livros de ficção científica, como Aelita (1923) e O hiperboloide do engenheiro Gárin (1927). Escreveu também para jovens e crianças e assinou uma adaptação de Pinóquio que se tornou conhecida na Rússia inteira: A chave de ouro ou as aventuras de Buratino (1936). Em 1918 Tolstói, acompanhado por sua terceira esposa, Natália Krandiévskaia (1888–1963), e por seu filho Nikita, com um ano, saíra dе Moscou para Odessa. No ano seguinte foram para Constantinopla e então para Paris, onde Tolstói se envolvera em círculos intelectuais de emigrados. Ali passou por problemas financeiros e ficou isolado artisticamente, vivendo de pequenas resenhas. Em 1921, partiu para Berlim com a promessa de dirigir uma revista literária independente. Voltou em 1923 para a Rússia, onde teve uma carreira notável.
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Daniil Kharms
Um dos expoentes da vanguarda russa, Daniil Kharms (1905-1942), pseudônimo de Daniil Ivánovitch Iuvatchóv, só teve sua obra «adulta» amplamente conhecida na Rússia nos anos 1990, assim como ocorreu a muitos artistas que viveram sob a égide da censura stalinista. Foi, então, integrado ao panteão dos escritores russos. A linguagem concisa, o humor ferino, o nonsense e a figura extravagante de Daniil Kharms inspiram artistas russos há quase duas décadas. Nascido em São Petersburgo, era filho de Ivan Iuvatchóv (1860-1940), que de um revolucionário do Vontade do Povo tornou-se um cristão fervoroso, e de Nadiejda Koliubákina (1876-1928). Após terminar o ginásio em Tsárskoie Seló, Kharms (de harm, do inglês, «mal», «dano») ingressou na Escola Eletrotécnica de Leningrado, de onde foi expulso, em 1926, por mau aproveitamento nos estudos. E não podia ser diferente: artista inquieto e eclético, o jovem logo se viu entre pensadores excêntricos, como Iákov Drúskin (1902-1980) e Leonid Lipávski (1904-1941) — filósofos que o influenciaram em suas buscas metafísicas (criaram o círculo dos tchinari) —, e entre poetas de vanguarda, como Aleksándr Vvédienski (1904-1941) — com quem, em 1928, criou a OBERIU (acrônimo de Obiediniénie reálnogo iskússtva, Associação para uma arte real), reunindo literatura, teatro, cinema e artes plásticas. Para a noite dе estreia da OBERIU, da qual outros artistas também faziam parte, como o poeta Nikolai Zabolótski (1903-1958), Daniil escreveu a peça Elizaveta Bam, consideradа por muitos críticos um marco do teatro do absurdo. Depois de ter sido preso pela primeira vez, em 1931, devido aos seus poemas e contos infantis — praticamente os únicos publicados em vida e adorados pelas crianças de Leningrado —, Kharms deixou a poesia um pouco de lado e se voltou para a prosa. Nos anos 1930, ele criou os antológicos Causos, série de miniaturas escrita entre 1933 e 1939, e A velha (1939), sua única novela. Em 1941, Daniil Kharms foi preso num hospital psiquiátrico, acusado de «propagar um estado derrotista e calunioso» no prelúdio da Segunda Guerra Mundial, morrendo de fome numa cela no ano seguinte, aos 36 anos de idade.
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Fiódor Dostoiévski
Franzino e epilético, Fiódor Dostoiévski (1821-1981), nascido em Moscou, foi o segundo filho de uma penca de oito. Seu pai, Mikhail Dostoiévski (1787-1839), era médico — dizem que morto pelos próprios servos — e sua mãe, Maria Netcháieva (1800-1837), vinha de uma família de comerciantes. Após a morte de Maria, de tuberculose, Fiódor ingressou na Escola de Engenharia da guarda imperial, em Petersburgo, época em que a atração pela literatura despertou no jovem de 16 anos — ele passava todas as horas vagas debruçado em livros. Não demorou para Fiódor abandonar a engenharia e enveredar para as letras. Deu seus primeiros passos como tradutor e, em 1845, concluiu seu romance Gente pobre. Alguns anos após seu début, Dostoiévski, em 1849, aos 28 anos, foi sentenciado à morte com membros do Círculo de Petrachévski, acusado de conspirar contra o governo. Minutos antes da execução, a pena foi comutada e ele enviado à Sibéria para cumprir quatro anos de trabalhos forçados — o período produziu uma mudança profunda no escritor. Fiódor Dostoiévski consagrou-se por romances viscerais como Crime e Castigo (1866) e O idiota (1868), mas também deixou um legado inestimável de prosa curta. Dois exemplos são Bobók & Meia carta «de um sujeito», que apareceram primeiramente nas páginas da revista O cidadão. A controversa publicação fundada pelo príncipe Meschiérski (1839-1914), conhecido pelas posições ultraconservadoras, foi editada em 1873 por Dostoiévski (um ano depois do romance Os demônios sair), que já tinha tido experiência jornalística com suas revistas O tempo (1861) e A época (1864), ao lado de seu irmão mais velho, Mikhail. Na Cidadão, Dostoiévski possuía uma coluna, chamada Diário de um escritor, que reunia textos ficcionais, ensaios e crônicas. A coluna obteve tamanho sucesso — ele era mais conhecido por ela que por seus romances — que, a partir de 1876, tornou-se uma publicação independente. O último ano do Diário coincidiu com o da morte do autor, aos 59 anos, dois meses depois de seu último romance, Irmãos Karamázov, ser publicado.
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Bobók & Meia carta de «um sujeito»
Encontrar o homem no homem – Dostoiévski e o existencialismo
Marina Tsvetáieva
Marina Tsvetáieva (1892–1941), expoente da poesia russa, foi filha de um conhecido filólogo, Ivan Tsvetáiev (1847–1913), professor da Universidade de Moscou e fundador do Museu Púchkin. А mãe dela, Маria Mein (1868–1906), uma notável pianista, morreu quando Marina tinha 14 anos e sua irmã 12, Anastassia, também escritora. Em 1910, com apenas 18 anos, Tsvetáieva publicou seu primeiro livro, Álbum da tarde. Dois anos depois, casou-se com Serguei Efron (1893–1941), integrante do Exército Branco; teve sua primeira filha, Ariadna; e lançou sua segunda coletânea de poemas, Lanterna mágica, recebendo boas críticas. Desde então, levar suas obras ao público foi se tornando mais difícil, apesar de escrever continuamente. Em 1913, perdeu o pai e passou a viver com muitas dificuldades, cuidando sozinha (o marido havia partido para o estrangeiro) de suas filhas, Ariadna e Irina, a mais nova, que acabou morrendo de fome em 1919. Em 1922, a escritora conseguiu permissão para encontrar-se com Serguei, indo para Praga (lá teve um filho) e depois para Paris, onde morou durante treze anos. Na Europa, a situação dela continuou complicada: sem dinheiro e, agora, artisticamente isolada. Publicou em Paris sua última coletânea poética em vida, Depois da Rússia (1928). Com o filho voltou à URSS em 1939, e logo o marido (já do lado do Exército Vermelho) e a filha, que já se encontravam no país, foram presos. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Marina foi obrigada a ir a um pequeno vilarejo da República Tártara. Em desespero, sozinha e na completa miséria, Marina Tsvetáieva se matou em 31 de agosto de 1941. Além de traduções e textos em prosa (na maior parte autobiográficos), Marina Tsvetáieva escreveu, principalmente, poemas (épicos, folclóricos e líricos), sempre na entrega total, que logo conquistaram apreciadores, como Boris Pasternak, com quem ela manteve uma rica troca de correspondências, um “romance epistolar”, e a quem dedicou vários de seus poemas, assim como a outros escritores, como Púchkin, Blok e Akhmátova. A relação de Tsvetáeiva com esses artistas era tão intensa que seu estilo poético não raro se misturava ao deles.
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Aurora Fornoni Bernardini
Aurora Fornoni Bernardini é professora, escritora e tradutora. Na Universidade de São Paulo (USP), além de mestrado e doutorado sobre futurismo russo e italiano, concluiu em 1978 sua livre-docência sobre Marina Tsvetáieva. Bernardini começou a estudar russo em 1958 e, no fim da década de 1960, durante o mestrado, foi convidada para lecionar no curso de russo da USP por Boris Schnaiderman (1917–2016). Atualmente é professora titular de pós-graduação nos programas de Literatura e Cultura Russa (atual LETRA) e de Teoria Literária e Literatura Comparada (FFLCH/USP). Em 2003, foi finalista do prêmio Jabuti pela tradução de Cartas a Suvórin, de Anton Tchékhov (Edusp, com Homero Freitas de Andrade); em 2004, recebeu o prêmio Jabuti (segundo lugar), com o poeta Haroldo de Campos, pela tradução de Ungaretti: daquela estrela à outra (Ed. Ateliê Editorial); em 2006, foi vencedora do prêmio APCA pela tradução de O exército de cavalaria, de Isaac Bábel (CosacNaify, com Homero Freitas de Andrade); em 2006, foi contemplada com o prêmio Paulo Rónai pela tradução de Indícios flutuantes — poemas, de Marina Tsvetáieva (Martins Fontes), de quem Bernardini ainda verteu Vivendo sob o fogo: confissões (Ed. Martins, 2008); em 2007, foi vencedora do prêmio Jabuti (terceiro lugar) também pela tradução de Indícios flutuantes; em 2014, foi finalista do Jabuti pela tradução de “Os sonhos teus vão acabar contigo”: prosa, poesia, teatro, de Daniil Kharms (Kalinka, com Daniela e Moissei Mountian).
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Encontros com Liz e outras histórias
“Os sonhos teus vão acabar contigo”: prosa, poesia, teatro
Aleksándr Kuprin
A imagem de Aleksandr Kuprin (1870-1938) é inseparável de seu gosto por aventuras, da personalidade ativa e intrépida, da vida errante, do amor pela Rússia, que conhecia profundamente, e das dificuldades que passou na infância. Nascido em uma cidadezinha da província de Penza, não teve contato com o pai, Ivan Kuprin (1834-1971), um funcionário público modesto oriundo da nobreza que morreu quando Aleksandr tinha um ano de idade. Com sérias dificuldades financeiras, sua mãe, Liubóv Kupriná (1838-1910), de origem tártara, se viu obrigada a mudar com o filho para Moscou. Lá, ele estudou em um colégio militar e, em 1888, ingressou na Escola de Cadetes de Alexandre. Depois, foi integrado como subtenente ao 46º regimento de infantaria da guarda imperial. Pediu dispensa em 1894, mas, durante a Primeira Guerra Mundial, realistou-se. Kuprin começou a escrever ainda menino e sua primeira obra foi publicada em 1889: Estreia derradeira. No começo da década de 1890, seus contos começaram a sair em revistas de Petersburgo. Na cidade, onde se instalou em 1901, deixou os diversos quebra-galhos para trás — fora de pescador a ator de circo — e começou a colaborar em várias revistas, embora volta e meia buscasse sustento no jornalismo, o que muito influenciou sua escrita. Depois da vitória dos bolcheviques, em outubro de 1917, Kuprin, simpatizante dos socialistas revolucionários, radicou-se em Paris, regressando ao seu país natal em 1937. Sua obra não raro é relacionada com querelas sociais, mas, na verdade, Aleksandr Kuprin, com uma prosa franca e realista, deixou textos sobre diversos temas. Entre seus trabalhos, destacam-se: Moloque (1896), O alferes armênio (1897), Olessia (1898), O duelo (1905). Ele também escrevia para os pequenos, sobre animais, artistas e altruísmo. Suas histórias infantojuvenis, como Doutor milagroso (1897), O poodle branco (1903) е O elefante (1907), são até hoje lidаs pelas crianças russas e estudadаs nas escolas.
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