Mês: junho 2023
Aulas de literatura russa
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Aulas de literatura russa: de Púchkin a Gorenstein apresenta um rico material que, se não propriamente um panorama das letras russas, está muito próximo disso. Há desde textos dedicados aos românticos, como Aleksandr Púchkin e Nikolai Gógol, até aos contemporâneos, como Ióssif Bródski e Serguei Dovlátov. A antologia reúne ensaios e resenhas de Aurora Fornoni Bernardini escritos ao longo de mais de trinta anos e publicados em prestigiosos jornais e revistas. Suas leituras atentas de Púchkin, Dostoiévski, Tolstói, Turguêniev, Tchékhov e outros escritores seminais do século XIX oferecem elementos para que os leitores se familiarizem com momentos decisivos e conceitos-chave da Era de Ouro da cultura russa. O capítulo de Dostoiévski é especialmente fecundo, incluindo uma entrevista com Joseph Frank, o mais conhecido biógrafo do escritor. Não menos profícuos são os artigos sobre grandes poetas de vanguarda e modernistas, como Velimir Khlébnikov, Marina Tsvetáieva e Daniil Kharms. Com requinte e originalidade, uma das mais renomadas tradutoras e ensaístas do Brasil analisa algumas das mais arrojadas experiências estéticas do início do século XX. Esta antologia celebra a arte russa e o percurso de Aurora Fornoni Bernardini, desde o colegial “cativada por aquele estranho mundo de estepes nevadas e corações ardentes”, percurso que se mistura com a própria consolidação da crítica e tradução literária dos artistas e teóricos russos entre nós. Ao lado de Boris Schnaiderman no curso de russo da USP, Aurora Bernardini formou dezenas de alunos e, também como ele, deixa um legado inestimável ao jornalismo cultural e ao ambiente intelectual brasileiro.
AUTOR | Aurora Fornoni Bernardini |
ORGANIZAÇÃO | Daniela Mountian e Valteir Vaz |
PREFÁCIO | Arlete Cavaliere |
CAPA | Daniela Mountian |
ISBN | 9786586862164 |
O Diabo Mesquinho
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O romance O Diabo Mesquinho, de Fiódor Sologub (1863-1927), escrito na passagem do século XIX para o XX, foi traduzido diretamente do russo, numa publicação inédita no Brasil. A obra conta as peripécias de Ardalión Boríssytch Peredónov, um professor do ginásio de uma pequena província russa do fim do século XIX que busca uma esposa para alcançar o sonhado posto de inspetor. Numa série de intrigas e confusões, alimentadas por seus incorrigíveis circunvizinhos, o maldoso Peredónov passa a ser assaltado por estranhas alucinações, como a nedotykomka, que culminam num inexorável processo de loucura. Num enredo paralelo, mas que se mistura às diversas tramas e intrigas, temos o caso de amor da alegre Ludmila e o belo ginasiano Sacha, que conhece com ela as marcas ambíguas dos seus primeiros desejos. Peredónov, expressão máxima de uma sociedade mesquinha e decaída, tornou-se personagem tão marcante na sua época que seu nome passou a ser usado para caracterizar certos comportamentos egoístas e insensíveis, algo como Oblómov, do romance homônimo de Gontcharóv. As situações de O Diabo Mesquinho, escrito por Sologub durante dez anos (1892-1902), beiram o nonsense e tocam, ao mesmo tempo, em questões cheias de concretude e violência, relacionadas ao poder, à autoridade, ao funcionalismo público etc., sempre permeadas por flechadas irônicas, pessimistas e destituídas de psicologismos. A escrita pessimista de Fiódor Sologub, influenciada tanto pela narrativa de Cervantes (D.Quixote era seu livro de cabeceira) e pelo idealismo de Schopenhauer como pelo riso de Gógol e pelas questões de moralidade de Dostoiévski, mostra-nos um mundo no qual não há mais espaço para os ideais de perfeição, amor e beleza.
Finalista do Prêmio Jabuti 2009 na categoria tradução.
AUTOR | Fiódor Sologub |
TÍTULO ORIGINAL | Mielkii Bes |
TRADUÇÃO | Moissei Mountian |
CAPA E ILUSTRAÇÕES | Fabio Flaks |
LANÇAMENTO | 2008 |
ISBN | 978-65-86862-26-3 |
O bom Stálin
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Em O bom Stálin (2004), Víktor Eroféiev narra sua “infância soviética feliz” sendo filho de um funcionário do alto escalão. Além de colaborador de Stálin e Mólotov, seu pai foi conselheiro cultural na embaixada russa em Paris e lá circulou entre festas e artistas, como Pablo Picasso, Simone Signoret e Yves Montand, que fascinavam o jovem narrador.
Conforme vai crescendo, o narrador se vê dividido entre Paris e Moscou, entre o amor que sente pelo pai e a aversão que tem por um colaborador ferrenho de um regime que abomina ao mesmo tempo que desfruta dos privilégios de sua posição. De traços sartrianos e dostoievskianos, o protagonista se desvenda aos leitores sem poupá-los dos próprios paradoxos.
Seguindo os meandros da memória, a história fornece um panorama da União Soviética e da formação do movimento da dissidência dos anos 1960 e 1970 e do cultuado almanaque Metrópol (1979), que reuniu grandes nomes da literatura russa contemporânea. O almanaque, idealizado por Eroféiev, acabou enterrando a carreira de seu pai, trazendo à tona o tema do parricídio, que paira psicanaliticamente em toda a envolvente narrativa.
Autor de Encontrar o homem no homem: Dostoiévski e o existencialismo, Víktor Eroféiev parece concordar que com a ideia de seu conterrâneo de que a realidade tem “em si um caráter fantástico, quase inverossímil” e, assim, discute o legado de Stálin e do stalinismo em seu país, em sua família, em si próprio e em cada um de nós.
AUTOR | Víktor Eroféiev |
TRADUÇÃO DO RUSSO | Moissei Mountian |
CAPA | Karina Aoki |
LANÇAMENTO | 2021 |
ISBN | 978-65-86862-25-6 |
Encontrar o homem no homem
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Em Encontrar o homem no homem: Dostoiévski e o existencialismo, Víktor Eroféiev, uma das vozes mais relevantes da literatura russa contemporânea, revisita obras seminais de Fiódor Dostoiévski, Jean-Paul Sartre e Albert Camus — como Memórias do subsolo, Crime e castigo, A náusea, O muro, O estrangeiro e A peste — pelo prisma da filosofia da existência e do absurdo. Sem sombra de dúvida, é a leitura de um literato que tem profundo conhecimento desses autores, mas também de um ser humano tentando, como seu compatriota, “encontrar no próprio homem as forças capazes de resguardá-lo da catástrofe” de um mundo sem Deus.
AUTOR | Viktor Eroféiev |
TRADUÇÃO DO RUSSO | Marina Darmaros |
CAPA | Karina Aoki |
PROJETO GRÁFICO | Kalinka |
LANÇAMENTO | 2021 |
ISBN | 978-65-86862-17-1 |
Salmo
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Em Salmo: romance-meditação sobre os quatro flagelos do Senhor (1975), Friedrich Gorenstein (1932-2002) constrói uma trama fantástica baseada na passagem mítica do Anticristo pela URSS entre 1933 e 1973. Ao longo de 40 anos, o Anticristo é testemunha de momentos cruciais da história soviética, como a fome nos anos 1930, a invasão dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, a evacuação, o pós-guerra, a censura stalinista, etc. Estruturado em cinco partes, aborda quatro grandes flagelos divinos: a fome, a espada, a luxúria e a doença, por meio de personagens vívidas e tocantes, como a jovem e melíflua Maria, nascida em uma pequena aldeia da Ucrânia, e Ánnuchka, da cidade de Rjév, que surgem em histórias cujas imagens impressionam pela força poética. Seguindo a tradição de autores como Thomas Mann em José e seus irmãos e Mikhail Bulgávov em Mestre e Margarida, Gorenstein utiliza passagens bíblicas como base de seu enredo, mas o faz a sua maneira: transporta-as diretamente para o século XX. Em seu projeto mais ambicioso, Gorenstein delineia uma polêmica com Dostoiévski ao eleger o Anticristo como seu herói, mas este não surge como inimigo de Cristo, mas como seu irmão. Salmo é uma façanha assombrosa e impactante, no qual são tratados temas gerais, em especial a questão judaica, mas não só. Há uma discussão contínua sobre as manifestações do Mal e as profecias bíblicas, sobre a relação da humanidade com seus ídolos, suas crenças e seu destino.
Finalista do Prêmio “Lendo a Rússia” (Instituto de Tradução, Moscou) na categoria tradução.
AUTOR | Friedrich Gorenstein |
TÍTULO ORIGINAL | Psalom, roman-razmychlénie o tchetyriokh kázniakh gospódnikh |
TRADUÇÃO | Moissei Mountian e Irineu Franco Perpetuo |
POSFÁCIO | Moissei Mountian |
CAPA | Fabio Flaks |
LANÇAMENTO | 2017 |
ISBN | 9788561096106 |