Mês: agosto 2021
Yulia Mikaelyan
Yulia Mikaelyan nasceu em Moscou. Fez graduação em Letras na Universidade Estatal de Moscou Lomonóssov e doutorado sobre Serguei Dovlátov no Programa em Literatura e Cultura Russa da Universidade de São Paulo. É professora da Universidade MGIMO de Moscou. Entre 2012 e 2014, ministrou aulas de língua russa na Universidade de São Paulo. Cotraduziu com Mário Ramos os contos “Um dia humano”, de A. Aviértchenko, “Cartas de Tula”, de B. Pasternak, “Na rua e em casa”, de S. Dovlátov, para a Nova antologia do conto russo (1792–1998) (Editora 34, 2011). Traduziu o ensaio “Quem deve aprender a escrever com quem, as crianças camponesas conosco ou nós com as crianças camponesas?“, de L. Tolstói, para a Antologia do pensamento crítico russo (Editora 34, 2013); os contos “A janela” e “Discurso de jubileu“, de V. Goliávkin, e “O coronel diz que eu a amo“, de S. Dovlátov, para a Antologia do humor russo (Editora 34, 2018). Na Kalinka traduziu, do mesmo autor, Parque Cultural (com seu prefácio), O ofício e O compromisso (os dois últimos em parceria com Daniela Mountian).
Irineu Franco Perpetuo
Jornalista e tradutor, colaborador da revista Concerto e jurado do concurso de música Prelúdio, da TV Cultura. Coautor, com Alexandre Pavan, de Populares & eruditos (Ed. Invenção, 2001), e autor de Cyro Pereira – maestro (DBA Editora, 2005) e dos audiolivros História da música clássica (Livro Falante, 2008), Alma brasileira: a trajetória de Villa-Lobos (Livro Falante, 2011) e Chopin: o poeta do piano (Livro Falante, 2012). Publicou, pela Editora Globo, a tradução de dois livros de A. S. Púchkin: Pequenas tragédias (2006) e Boris Godunov (2007). Traduziu Memórias de um caçador (Ed. 34), de Ivan Turguêniev; A morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói, e Memórias do subsolo, de Fiódor Dostoiévski (ambos pela Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura, 2016); Vida e destino (Ed. Alfaguara, segundo lugar no Prêmio Jabuti 2015) e A estrada (Ed. Alfaguara, 2015), livros de Vassíli Grossman; e Mestre e margarida, de Mikhail Bulgákov (Ed. 34), entre outros.
TÍTULOS RELACIONADOS
Daniela Mountian
Daniela Mountian é criadora e editora-chefe da Kalinka. Fez pela USP graduação em história, mestrado (DLO) sobre Fiódor Sologub e doutorado-sanduíche (DLO) sobre Daniil Kharms, com estágio de um ano no Instituto de Literatura Russa da Academia Russa de Ciências (Casa de Púchkin), em São Petersburgo. Atualmente, pesquisando a literatura russa infantil dos anos 1920, é pós-doutoranda (DTLLC/USP) com apoio da FAPESP, também com um ano de estágio na Casa de Púchkin. Foi indicada ao prêmio Jabuti pela tradução de “Os sonhos teus vão acabar contigo”, de Daniil Kharms (Kalinka, 2013, com Aurora Bernardini e Moissei Mountian). Traduziu com seu pai, Moissei, o conto “Luz e sombras”, de Sologub, para a Nova antologia do conto russo (Editora 34, 2011), e “Ivan Fiódorovitch Chponka e sua titia”, de Nikolai Gógol, para a Antologia do humor russo (Editora 34, 2018); e os livros Diário de um escritor (1873): Meia carta de “um sujeito”, de Fiódor Dostoiévski (Hedra, 2016), e A ressurreição do lariço (Contos de Kolimá 5), de Varlam Chalámov (Editora 34, 2016). Prefaciou e organizou a antologia Contos russos juvenis (Kalinka, 2021).
Lídia Avílova
Oriunda de uma família nobre empobrecida, Lídia Avílova (1864–1943) desde menina queria ser escritora. Terminou o ginásio em Moscou em 1882 e começou a publicar na década de 1890, colaborando em várias revistas e edições. Sua primeira coletânea, O felizardo e outros contos, saiu em 1896.
Entre seus trabalhos, muitos com temáticas sociais, destacam-se os contos (seu gênero favorito) em que sobressai o ponto de vista infantil. Lídia “com maestria descortinava o mundo interior da criança, seus ímpetos e aflições”.
O nome de Lídia Avílova é geralmente associado ao de Anton Tchékhov, a quem ela conhecera em 1889 e com quem trocava correspondências, nas quais o escritor lhe dava conselhos literários. Avílova escreveu a biografia A. P. Tchékhov na minha vida, que acabou se tornando sua obra mais renomada, embora ela tenha escrito contos e novelas e tenha sido relativamente conhecida. Durante a URSS, a autora deixou de ser convidada a trabalhar, mas nunca parou de escrever.
TÍTULO RELACIONADO
Lev Tolstói
Nem todo mundo sabe que o conde Lev Tolstói (1828–1910) dedicou praticamente toda a sua vida também à educação e à literatura para a infância e a juventude. Além de ter fundado, em 1859, uma escola para camponeses na propriedade onde nascera, Iásnaia Poliana, ele criou a Cartilha (1871–1872), enorme manual depois desmembrado na Nova cartilha (1875) e em quatro Livros russos para leitura (1875–1885).
Tendo perdido os pais ainda menino, Tolstói foi educado por tutores e depois por uma tia. Ingressou, em1845, na Universidade de Kazan, mas não chegou a concluí-la, sendo, no fim das contas, um autodidata — era conhecedor de muitas línguas e filosofias.
Foi durante o serviço militar, passando pelo Cáucaso e pela Crimeia, que começou a escrever. Seu primeiro texto, Infância, saiu em 1852 na revista O contemporâneo. A fase de seus longos romances, de Guerra e paz (1865–1869) até Anna Kariénina (1875–1877), começou após seu casamento, em 1862, com Sófia Andréievna, união que gerou 13 filhos.
Tomado por anseios e inquietações, o escritor intercalou vida literária e outros interesses. “Tolstói é importante não apenas por ser o mestre insuperado do gênero que se costumou chamar ‘romance psicológico do séculoXIX ’, mas também por seus contos breves, diários e escritos teóricos sobre pedagogia, arte e religião”.
A década de 1880 aprofundou uma série de crises existenciais pelas quais o escritor havia passado e o levou a uma fase que ele próprio definiu como sua “redenção moral”. Já praticante do vegetarianismo, abriu mão dos direitos autorais de algumas obras em prol dos camponeses e sistematizou uma série de preceitos filosóficos e religiosos que, reunidos, passaram a ser conhecidos como tolstoísmo. Era uma espécie de doutrina baseada no cristianismo, mas acrescida de outras concepções, que repercutiu no mundo todo e fez com que Tolstói fosse excomungado da Igreja Ortodoxa. Seu último romance foi Ressurreição (1899).
TÍTULO RELACIONADO
Anton Tchékhov
Anton Tchékhov (1860–1904), escritor e dramaturgo, nasceu numa cidadezinha chamada Taganrog, no sul da Rússia, e foi o terceiro dos seis filhos de Evguénia e Pável, dono de uma mercearia.
Neto de servos, o futuro escritor teve uma infância dura, marcada pela religião e pela pobreza; seu refúgio eram os livros e o teatro, que o fascinou desde os 13 anos.
Em 1879, o jovem mudou-se para Moscou, onde já se encontrava sua família, que fugira dos credores após a falência do pai. Na cidade grande, Tchékhov ingressou na faculdade de medicina e continuou escrevendo pequenas histórias cômicas, publicadas agora em revistas moscovitas. Produzindo muito e cada vez mais ciente de seu estilo, transformou-se num mestre da prosa curta, rompendo com elementos tradicionais da composição do conto. Suas obras, como Enfermaria nº 6 e “A dama do cachorrinho“, foram e são referência para muitos artistas.
Uma estada no sul originou a novela A estepe, a qual, publicada em 1888 na prestigiada revista Mensageiro do Norte, deu-lhe mais notoriedade. Dois anos depois, o escritor, que sofria de tuberculose, empreendeu uma difícil e longa viagem a uma colônia penal na Ilha dе Sacalina, no Extremo Oriente Russo, uma experiência que teve grande repercussão em sua vida. Ao voltar, passou os cinco anos seguintes escrevendo um relato sobre a ilha, com descrições apuradas e denúncias sociais.
Anton Tchékhov também inovou a arte dramática, principalmente com as peças que criou para o Teatro de Arte de Moscou: Tio Vânia (1899), As três irmãs (1901), O jardim das cerejeiras (1904). Viveu seus últimos anos, entre uma viagem e outra, numa propriedade nos arredores de Ialta, cuidando da tuberculose, que acabou lhe tirando a vida aos 44 anos. Tchékhov morreu em sua casa, depois de tomar um copo de champanhe, segundo recordações da atriz Olga Knipper, sua esposa e amiga.
TÍTULO RELACIONADO
Sacha Tchórny
O poeta e escritor Sacha Tchórny (1880–1932), pseudônimo de Aleksándr Glíkberg, nasceu numa família judia de Odessa. O tchórny (“preto” em russo) surgiu porque havia dois filhos chamados Sacha (apelido de Aleksándr) na família — um de cabelos pretos, outro de cabelos loiros.
Sacha Tchórny foi expulso de três ginásios por mau aproveitamento, até que seus pais pararam de responder às suas cartas e de lhe mandar dinheiro. Foi um funcionário público de Jitómir que cuidou do menino e lhe passou o gosto pela poesia.
Tchórny tornou-se conhecido por seus poemas satíricos, que começou a publicar em 1901. Já morando em São Petersburgo, passou a colaborar em várias revistas, e seus versos cômicos eram esperados ansiosamente pelos leitores, que os sabiam de cor. Esses textos críticos tornaram o autor alvo da censura e ele se viu obrigado a ir para a Europa, de onde voltou em 1908. Agora um poeta renomado, virou colaborador da revista Satirikon.
A partir de 1911, para a surpresa dos admiradores de sua veia irônica, o escritor ingressou na literatura infantil. Ele fez tanto sucesso como poeta para adultos quanto para crianças. Ao universo infantil trouxe humor, ritmo poético е uma linguagem própria da infância, dando sinais da nova fase da literatura russa para a infância que se consolidará alguns anos depois.
Em 1918, depois de voltar do front da Primeira Guerra Mundial, Tchórny emigrou para a Europa, onde continuou escrevendo textos para os pequenos. Tornou-se colaborador da revista Varinha verde e publicou muitos livros infantojuvenis, tais como a antologia poética A ilha infantil (1921) e O diário do fox Mikki (1927), uma história contada do ponto de vista de um cachorro parisiense.
TÍTULO RELACIONADO
Ivan Turguêniev
Quando se pensa em literatura russa, Ivan Turguêniev (1818–1883) é daqueles autores inescapáveis. Suas obras, escritas com primor, tornaram-se conhecidas no mundo inteiro, tal como Pais e filhos (1862), dedicada ao crítico Vissarion Belínski.
De uma família nobre abastada, Turguêniev passou anos de sua vida na Europa, mas nunca deixou de se sensibilizar com as questões da Rússia. O interesse pelas transformações político-sociais de seu país não o impediu, no entanto, de expor em seus livros, que oscilavam entre romantismo e realismo, grandes contradições humanas.
Nascido numa propriedade rural na região de Oriol, tinha um pai ausente, que morreu aos 42 anos, e uma mãe voluntariosa e autoritária, Varvara Turguênieva. Em 1833, o futuro escritor ingressou no departamento de letras da Universidade de Moscou e, um ano depois, transferiu-se para a Universidade de São Petersburgo, onde se graduou em 1837, partindo para Berlim para continuar os estudos. A Alemanha foi também palco do encontro que teve com Mikhail Bakúnin, no começo da década de 1840, figura que em parte inspirou seu primeiro romance, Rúdin, de 1856.
A vida de Ivan Turguêniev sofreu uma guinada em 1843, quando ele conheceu em São Petersburgo a cantora lírica e compositora francesa Pauline Viardot e por ela se apaixonou perdidamente. Era casada com o crítico e diretor de teatro Louis Viardot, vinte anos mais velho, mas isso não conteve Turguêniev, que não mais se afastou de sua amada. A devoção por Pauline motivou nova temporada na Europa, onde ele manteve contato com grandes nomes das letras francesas, como George Sand, Gustave Flaubert e Victor Hugo.
Desde os anos 1830, o jovem Turguêniev, fanático por Púchkin e Gógol, traduzia e escrevia poemas e peças, mas sua entrada definitiva no mundo literário se deu em 1847, quando começou a publicar, na revista O contemporâneo, os contos que formariam o volume Memórias de um caçador (1852), coletânea que colaborou para o fim do regime de servidão da gleba. A partir de então escreveu principalmente textos em prosa, muitos dos quais se tornaram clássicos, tais como: Diário de um homem supérfluo (1850), Ássia (1858), Primeiro amor (1860).
Ivan Turguêniev morreu em 1883 em Paris, mas pediu que fosse enterrado em São Petersburgo.
TÍTULO RELACIONADO
Lídia Tchárskaia
O nome de Lídia Tchárskaia (pseudônimo de Lídia Tchirilova,1875–1937), nascida em Tsárskoie Seló (São Petersburgo), hoje nem na Rússia é amplamente conhecido, mas ela foi a autora infantojuvenil mais lida no início do século XX.
A mãe de Lídia morreu no parto e seu pai era militar. Quando completou 10 anos de idade, por conflitos com a nova família do pai, foi mandada para o Instituto Pávlovski, um internato para moças, onde ficou até os 17 anos. Ao sair, ingressou na Escola de Teatro Imperial de São Petersburgo e, em 1898, tonou-se parte do corpo de atores do Teatro Aleksandrínski, fazendo pequenos papéis. Depois de separar-se do marido, Lídia começou a escrever para ajudar no sustento do filho e adotou o pseudônimo Tchárskaia (de tcháry, “feitiço”, “encanto”).
Com mais de 80 obras publicadas (em geral infantojuvenis), a autora enveredou por vários gêneros literários: escreveu poemas, contos, contos maravilhosos, novelas, romances autobiográficos e históricos. Suas protagonistas femininas — românticas, sentimentais, positivas e não raro órfãs (como a própria autora) — causavam sensação entre russinhas adolescentes.
Memórias de uma moça no internato (1901–1902), sua primeira novela, foi publicada na revista Palavra sincera e fez sucesso espantoso. Baseada nas lembranças do Instituto Pávlovski, a autora retrata os conflitos e as expectativas de moças cheias de paixão. As protagonistas, a pobre ucraniana Liuda Vlássovskaia e a princesa georgiana Nina Djavakha, deram origem a uma série de livros, que inclui A princesa Djavakha (1903), Liuda Vlássovskaia (1904), A segunda Nina (1907), entre outros. A livre e exótica Djavakha, a quem MarinaTsvetáieva chegou a dedicar um poema na coletânea Álbum da tarde (1910), foi a heroína mais adorada entre as criações de Tchárskaia.
Com a Revolução de 1917 e a instauração de um novo regime, os livros de Lídia Tchárskaia, assim como os de outros autores, foram retirados das bibliotecas e deixaram de ser editados: “elеs eram estranhos à classe proletária e não correspondiam à nova ideologia”, sendo considerados por demais sentimentais e “burgueses”. Ela conseguiu driblar a censura por um tempo, usando um pseudônimo, mas, após ser descoberta, não teve como continuar escrevendo. Foi despedida do teatro em 1924. Kornei Tchukóvski, Samuel Marchak e Víktor Chklóvski, representantes de uma nova proposta estética, criticaram-na publicamente — o único que saiu em sua defesa foi Fiódor Sologub, elogiando a escrita e a popularidade da autora, que acabou morrendo no ostracismo e na pobreza.
Com o fim da União Soviética, as obras de Tchárskaia voltaram a ser publicadas, embora sem o mesmo frenesi.
TÍTULO RELACIONADO
Vladímir Odóievski
O príncipe Vladímir Odóievski (1804–1869) era musicólogo, escritor e ocultista. Foi representante do romantismo russo, com influências de Hoffmann, Schelling (a quem conheceu pessoalmente) e do idealismo alemão. Odóievski publicou em 1844 Noites russas, romance de traços românticos e filosóficos.
Como músico e musicólogo, acreditava que a “música era filha da matemática”, admirava Bach, Beethoven e Glinka, compôs músicas sobre poemas de Púchkin e Nekrássov e para fábulas de Krylóv. Foi autor dos livros Alfabeto musical para escolas populares e Gramática musical para não músicos.
Participava ativamente da vida literária, era amigo de Gógol e Lêrmontov, e sua obra interessou a Púchkin, de quem foi ajudante na revista que o poeta havia fundado, O contemporâneo. Foi Odóievski, por sinal, o autor da frase “o sol da poesia russa” — referindo-se a Púchkin —, que é repetida aos quatros ventos na Rússia. O príncipe também se interessou pela educação; ele acreditava que as crianças deveriam desenvolver qualidades humanitárias e valorizar o saber por um processo de aprendizagem não desquitado da realidade e concebido como um todo, e não como um conjunto de disciplinas isoladas e artificiais.
Vladímir Odóievski começou a escrever textos para a infância nos anos 1830, com o pseudônimo titio Irinei, e passou por vários gêneros.
TÍTULO RELACIONADO