Mês: julho 2021
Vera Ermoláieva
A pintora, ilustradora e pedagoga Vera Ermoláieva nasceu em 1893 na província de Sarátov. Quando pequena, sofreu uma queda de um cavalo que a deixou com as pernas paralisadas. Concluiu o ginásio em São Petersburgo. Em 1914 passou uma temporada na Europa, interessada por artistas como Cézanne, Picasso e Braque.
De volta à Rússia, entre outras atividades, organizou o coletivo Hoje (1918), que produziu livros infantis futuristas e com base na cultura popular russa (lubók). Foi discípula e colaboradora de Malévitch e fez parte do grupo UNOVIS (Consolidadores da nova arte), um laboratório suprematista.
Figura ativa da vanguarda russa, ela trabalhou também nas melhores revistas infantojuvenis soviéticas e ilustrou livros de muitos autores, além dos seus próprios. Em seus trabalhos usou linguagens diferentes, trouxe elementos do fauvismo, cubismo, construtivismo.
Em 1934, acusada de propagar ideias antissoviéticas em arte, acabou presa, com membros do grupo “realismo pictórico-escultural”, seguidores de Malévitch. Morreu fuzilada em 1937 em um campo de prisioneiros. Em 2013, foi criada em Moscou a Fundação Vera Ermoláieva, para iniciativas de artistas contemporâneas.
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Friedrich Gorenstein
Friedrich Gorenstein (1932-2002), nascido na URSS, é autor de contos, romances, roteiros e peças de teatro, como Uma discussão com Dostoiévski (1973). Com Andrei Tarkóvski, assinou os roteiros dos filmes Andrei Rublióv (1966) e Solaris (1972), além de A escrava do amor (1976), de Nikita Mikhalkóv. Autor de dezesseis romances, Gorenstein foi finalista do prêmio Booker Prize (Rússia) em 1992.
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Leonid Dobýtchin
No fim de 1987, um pouco depois de voltar de Estocolmo, onde fora receber o Nobel de literatura, Joseph Brodsky falava a um grupo de estudantes e professores da Universidade de Harvard. O escritor Arkádi Lvóv lembra o episódio no jornal:
— Qual dos escritores…
Brodsky nem terminou de ouvir a pergunta:
— Minha altivez é a poesia.
— Mesmo assim, quem o senhor considera o maior escritor russo pós-revolucionário?
Brodsky refletiu. Ouviam-se vozes de todos os lados:
— Bulgákov, Platónov, Bábel, Zóschenko…
— Dobýtchin — proferiu Brodsky rapidamente. — Leonid Dobýtchin.
(Extraído de um artigo de V. Mechkóv, publicado em Gazeta da Cidade, Eupatória, Ucrânia, ago–out, 2007, nº 29–39)
O nome de Leonid Dobýtchin (1894–1936), hoje aclamado por literatos russos, foi redescoberto depois de 1990. Dobýtchin enfrentou uma vida repleta de dificuldades. Trabalhou como estatístico em regiões do norte da Rússia, dividindo quartos de solteiro com a mãe, uma parteira, e três irmãos. Viveu os últimos anos de sua vida em Leningrado (atual São Petersburgo). A morte do escritor, em 1936, provável suicídio, ocorreu no momento em que Stálin declarou guerra contra o formalismo. Ser tachado de formalista e politicamente míope, como Dobýtchin o foi após a publicação da novela A Cidade Ene (1935), era na época uma acusação gravíssima. Ele defendeu-se dela numa reunião na União dos Escritores de Leningrado e desapareceu no dia seguinte. Em vida, além da novela, publicou duas coletâneas de contos, Encontros com Liz (1927) e O retrato (1931) — reunidas em Encontros com Liz e outras histórias (ed. Kalinka, 2009). Escreveu ainda Os selvagens (1989) e O clã do Churka (1993), este que recebeu o prêmio “Internacional Book of the Year” do Times Literary Supplement de 1994.
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Viatchesláv Kupriyánov
O poeta Viatchesláv Kupriyánov (1939) nasceu em Novosibirsk, na Sibéria, e mora há muitos anos em Moscou, onde se formou nos anos de 1960 no Instituto de Línguas Estrangerias (no começo da carreira traduziu textos do alemão, sobretudo de Rainer Maria Rilke).
Com muitas antologias publicadas e prêmios recebidos, Kurpriyánov é estudado e apreciado em vários países do mundo, como na Alemanha, onde ele possui um percurso notável. Além disso, é um artista muito ativo. Em 1988, por exemplo, organizou o primeiro festival de poetas independentes da Sibéria.
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Fiódor Sologub
Fiódor Sologub (1963–1927) foi um dos nomes mais representativos do simbolismo russo, que floresceu no início do século XX. Às vésperas das revoluções de 1905 e 1917, o momento simbolista, no qual o apuro na linguagem se fez tão presente em construções sapientemente elaboradas como às da escrita de Sologub, preparou o advento de novos caminhos estéticos na arte russa.
Fiódor Sologub, pseudônimo de Fiódor Kuzmitch Tetiérnikov, nasceu no ano de 1863, em São Petersburgo. Perdeu o pai, um alfaiate, aos quatro anos de idade. Sua mãe, severa e religiosa, depois da morte do marido, tornou-se criada na casa dos Agápov, onde o menino Fedia Tetiérnikov e sua irmã mais nova, Olga, passaram a infância e a juventude. Ao concluir o Instituto Técnico de São Petersburgo, ele trabalhou como professor de matemática e depois como inspetor escolar até o ano de 1907.
A obra de Sologub começou a ser publicada em almanaques na década de 1880, mas foi o ano de 1896 que marcou o início de sua carreira, quando três de seus livros foram publicados: Poemas; Sombras: Contos e Versos; e o romance Sonhos maus.
A figura estranha e esquiva de Fiódor Sologub tornou-se lendária entre os simbolistas. Muitos escritores e poetas teceram palavras calorosas e exultantes sobre sua obra, como Andrei Biély (1880–1934) e Evguéni Zamiátin (1884–1937), embora invariavelmente descrevessem o autor como um homem de poucas palavras e ausente, sempre com o pincenê, as pernas cruzadas e os olhos entreabertos.
A morte trágica de sua esposa e colaboradora, a ensaísta e escritora Anastácia Nikoláievna Tchebotariévskaia (1876–1921), que se jogou da ponte Tutchkóv ao rio Nevá, marcou os últimos anos do escritor. Sologub continuou a produzir até o ano de 1923 (o ano de sua última publicação).
Teve uma vasta carreira literária. Escreveu romances — como Sonhos maus, A lenda criada e sua mais afamada obra em prosa, O Diabo Mesquinho, também adaptado ao teatro –, inúmeros poemas, ensaios, contos, contos maravilhosos e peças de teatro. Suas Obras reunidas publicadas em Petersburgo pela Editora Sirin (1913–1914) constituem vinte volumes, que foram ainda complementados com seus escritos posteriores.
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Aleksei Tolstói
Aleksei Tolstói (1883–1945), da família do conde Nikolai Tolstói, nasceu em uma cidadezinha na província de Samara e virou um conhecido e influente escritor na União Soviética, principalmente a partir da década de 1930. Aventurou-se por vários gêneros: foi autor de obras realistas e históricas, como a trilogia O caminho dos tormentos (1921–1940) e o romance histórico inacabado Pedro I (1930–1934), e de livros de ficção científica, como Aelita (1923) e O hiperboloide do engenheiro Gárin (1927). Escreveu também para jovens e crianças e assinou uma adaptação de Pinóquio que se tornou conhecida na Rússia inteira: A chave de ouro ou as aventuras de Buratino (1936). Em 1918 Tolstói, acompanhado por sua terceira esposa, Natália Krandiévskaia (1888–1963), e por seu filho Nikita, com um ano, saíra dе Moscou para Odessa. No ano seguinte foram para Constantinopla e então para Paris, onde Tolstói se envolvera em círculos intelectuais de emigrados. Ali passou por problemas financeiros e ficou isolado artisticamente, vivendo de pequenas resenhas. Em 1921, partiu para Berlim com a promessa de dirigir uma revista literária independente. Voltou em 1923 para a Rússia, onde teve uma carreira notável.
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Daniil Kharms
Um dos expoentes da vanguarda russa, Daniil Kharms (1905-1942), pseudônimo de Daniil Ivánovitch Iuvatchóv, só teve sua obra «adulta» amplamente conhecida na Rússia nos anos 1990, assim como ocorreu a muitos artistas que viveram sob a égide da censura stalinista. Foi, então, integrado ao panteão dos escritores russos. A linguagem concisa, o humor ferino, o nonsense e a figura extravagante de Daniil Kharms inspiram artistas russos há quase duas décadas. Nascido em São Petersburgo, era filho de Ivan Iuvatchóv (1860-1940), que de um revolucionário do Vontade do Povo tornou-se um cristão fervoroso, e de Nadiejda Koliubákina (1876-1928). Após terminar o ginásio em Tsárskoie Seló, Kharms (de harm, do inglês, «mal», «dano») ingressou na Escola Eletrotécnica de Leningrado, de onde foi expulso, em 1926, por mau aproveitamento nos estudos. E não podia ser diferente: artista inquieto e eclético, o jovem logo se viu entre pensadores excêntricos, como Iákov Drúskin (1902-1980) e Leonid Lipávski (1904-1941) — filósofos que o influenciaram em suas buscas metafísicas (criaram o círculo dos tchinari) —, e entre poetas de vanguarda, como Aleksándr Vvédienski (1904-1941) — com quem, em 1928, criou a OBERIU (acrônimo de Obiediniénie reálnogo iskússtva, Associação para uma arte real), reunindo literatura, teatro, cinema e artes plásticas. Para a noite dе estreia da OBERIU, da qual outros artistas também faziam parte, como o poeta Nikolai Zabolótski (1903-1958), Daniil escreveu a peça Elizaveta Bam, consideradа por muitos críticos um marco do teatro do absurdo. Depois de ter sido preso pela primeira vez, em 1931, devido aos seus poemas e contos infantis — praticamente os únicos publicados em vida e adorados pelas crianças de Leningrado —, Kharms deixou a poesia um pouco de lado e se voltou para a prosa. Nos anos 1930, ele criou os antológicos Causos, série de miniaturas escrita entre 1933 e 1939, e A velha (1939), sua única novela. Em 1941, Daniil Kharms foi preso num hospital psiquiátrico, acusado de «propagar um estado derrotista e calunioso» no prelúdio da Segunda Guerra Mundial, morrendo de fome numa cela no ano seguinte, aos 36 anos de idade.
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Fiódor Dostoiévski
Franzino e epilético, Fiódor Dostoiévski (1821-1981), nascido em Moscou, foi o segundo filho de uma penca de oito. Seu pai, Mikhail Dostoiévski (1787-1839), era médico — dizem que morto pelos próprios servos — e sua mãe, Maria Netcháieva (1800-1837), vinha de uma família de comerciantes. Após a morte de Maria, de tuberculose, Fiódor ingressou na Escola de Engenharia da guarda imperial, em Petersburgo, época em que a atração pela literatura despertou no jovem de 16 anos — ele passava todas as horas vagas debruçado em livros. Não demorou para Fiódor abandonar a engenharia e enveredar para as letras. Deu seus primeiros passos como tradutor e, em 1845, concluiu seu romance Gente pobre. Alguns anos após seu début, Dostoiévski, em 1849, aos 28 anos, foi sentenciado à morte com membros do Círculo de Petrachévski, acusado de conspirar contra o governo. Minutos antes da execução, a pena foi comutada e ele enviado à Sibéria para cumprir quatro anos de trabalhos forçados — o período produziu uma mudança profunda no escritor. Fiódor Dostoiévski consagrou-se por romances viscerais como Crime e Castigo (1866) e O idiota (1868), mas também deixou um legado inestimável de prosa curta. Dois exemplos são Bobók & Meia carta «de um sujeito», que apareceram primeiramente nas páginas da revista O cidadão. A controversa publicação fundada pelo príncipe Meschiérski (1839-1914), conhecido pelas posições ultraconservadoras, foi editada em 1873 por Dostoiévski (um ano depois do romance Os demônios sair), que já tinha tido experiência jornalística com suas revistas O tempo (1861) e A época (1864), ao lado de seu irmão mais velho, Mikhail. Na Cidadão, Dostoiévski possuía uma coluna, chamada Diário de um escritor, que reunia textos ficcionais, ensaios e crônicas. A coluna obteve tamanho sucesso — ele era mais conhecido por ela que por seus romances — que, a partir de 1876, tornou-se uma publicação independente. O último ano do Diário coincidiu com o da morte do autor, aos 59 anos, dois meses depois de seu último romance, Irmãos Karamázov, ser publicado.
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Bobók & Meia carta de «um sujeito»
Encontrar o homem no homem – Dostoiévski e o existencialismo
Marina Tsvetáieva
Marina Tsvetáieva (1892–1941), expoente da poesia russa, foi filha de um conhecido filólogo, Ivan Tsvetáiev (1847–1913), professor da Universidade de Moscou e fundador do Museu Púchkin. А mãe dela, Маria Mein (1868–1906), uma notável pianista, morreu quando Marina tinha 14 anos e sua irmã 12, Anastassia, também escritora. Em 1910, com apenas 18 anos, Tsvetáieva publicou seu primeiro livro, Álbum da tarde. Dois anos depois, casou-se com Serguei Efron (1893–1941), integrante do Exército Branco; teve sua primeira filha, Ariadna; e lançou sua segunda coletânea de poemas, Lanterna mágica, recebendo boas críticas. Desde então, levar suas obras ao público foi se tornando mais difícil, apesar de escrever continuamente. Em 1913, perdeu o pai e passou a viver com muitas dificuldades, cuidando sozinha (o marido havia partido para o estrangeiro) de suas filhas, Ariadna e Irina, a mais nova, que acabou morrendo de fome em 1919. Em 1922, a escritora conseguiu permissão para encontrar-se com Serguei, indo para Praga (lá teve um filho) e depois para Paris, onde morou durante treze anos. Na Europa, a situação dela continuou complicada: sem dinheiro e, agora, artisticamente isolada. Publicou em Paris sua última coletânea poética em vida, Depois da Rússia (1928). Com o filho voltou à URSS em 1939, e logo o marido (já do lado do Exército Vermelho) e a filha, que já se encontravam no país, foram presos. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Marina foi obrigada a ir a um pequeno vilarejo da República Tártara. Em desespero, sozinha e na completa miséria, Marina Tsvetáieva se matou em 31 de agosto de 1941. Além de traduções e textos em prosa (na maior parte autobiográficos), Marina Tsvetáieva escreveu, principalmente, poemas (épicos, folclóricos e líricos), sempre na entrega total, que logo conquistaram apreciadores, como Boris Pasternak, com quem ela manteve uma rica troca de correspondências, um “romance epistolar”, e a quem dedicou vários de seus poemas, assim como a outros escritores, como Púchkin, Blok e Akhmátova. A relação de Tsvetáeiva com esses artistas era tão intensa que seu estilo poético não raro se misturava ao deles.
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Moissei Mountian
Moissei Mountian, nascido na URSS (Moldávia), é formado em engenharia civil. Em 1972, mudou-se com sua esposa, Sofia Mountian, para o Brasil, onde em 2008 fundou com sua filha Daniela a editora Kalinka e começou a trabalhar como tradutor. É parte do conselho editorial da Kalinka, tendo trazido nomes como Fiódor Sologub, Leonid Dobýtchin e Friedrich Gorenstein aos leitores brasileiros. Foi indicado duas vezes ao Prêmio Jabuti pelas traduções de O Diabo Mesquinho, de Fiódor Sologub (Kalinka, 2008), e Os sonhos teus vão acabar contigo: prosa, poesia,teatro, de Daniil Kharms (Kalinka, 2103, com Aurora Fornoni Bernardini e Daniela Mountian). Também traduziu Encontros com Liz e outras histórias, de Leonid Dobýtchin (Kalinka, 2009), Diário de um escritor (1873): Meia carta de um sujeito, de Fiódor Dostoiévski (Hedra, 2016), e A ressurreição do lariço: Contos de Kolimá 5, de Varlam Chalámov (Ed. 34, 2016), os dois últimos em parceria com Daniela. Com Irineu Franco Perpetuo verteu Salmo, de Friedrich Gorenstein (indicado ao prêmio de tradução “Lendo a Rússia”, do Instituto de Tradução de Moscou).
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“Os sonhos teus vão acabar contigo”: prosa, poesia, teatro